

Apresentação em prosa
A mostra Ocas Urbanas tem como inspiração primeira, a série de quadros “Telhados”, do saudoso artista plástico baiano Babalu - a minha maior referência artística. Também é uma síntese das minhas outras referências com as artes: a popular brasileira, representada nos telhados; a geométrica, ao utilizar módulos quadrados compostos por triângulos; a indígena brasileira, com seus grafismos característicos; e a óptica, como resultado pictórico, que revela surpresas em cada foco do olhar do espectador.
As composições visuais vão se revelando conforme a distância ou ao ponto de vista do espectador - ela também sugere diversas interpretações. Na primeira observação, à distância, a primeira impressão é que são abstrações geométricas. No momento seguinte, alguns passos adiante, percebemos os grafismos inspirados na comunicação visual (digamos assim) dos povos indígenas brasileiros, que tem grande influência no meu trabalho artístico. Esses grafismos vão além dos conceitos estéticos - na pintura corporal, por exemplo, ela pode indicar a posição social do indivíduo na aldeia e/ou representar diversos ritos e cerimônias - também nos mostra que a arte pode estar presente em todos os aspectos das nossas vidas, desde aos corriqueiros utensílios domésticos às indumentárias ritualísticas.
No passo seguinte, a obra nos convida a desvendar todas as possibilidades de formas e volumes que ela oferece à nossa visão. Aqui é o clímax da contemplação, um momento de entretida meditação, pois quando nos propomos a desvendar todos os detalhes possíveis dos trabalhos artísticos, conseguimos esvaziar a nossa mente de fatores externos e imergir em um estado de silêncio interior (a dica é focar o olhar em um ponto central de cada obra e viajar em todas as possibilidades visuais que elas propõem). Ainda nesse momento, o elemento surpresa é revelado: os telhados! Esteticamente, são texturas para a composição da obra e simbolicamente representam abrigo e proteção das intempéries. Representam, de certa forma, a segurança que todos almejamos para as nossas vidas.
Em um sentido mais conceitual, a mostra Ocas Urbanas representa a ocupação da “civilização” em terras brasileiras. E os grafismos inspirados na arte indígena brasileira, simbolizam uma espécie de “raio X” que indica que, sob os telhados, os verdadeiros donos desta terra, deste chão retalhado, são os Povos Originários de Pindorama.

Apresentação em versos
Séries das Obras
De barro, de cimento,
De cerâmica também,
Cobertura que vai bem,
Faz o acolhimento,
Abriga com fundamento.
De telhas, faz o telhado,
O teto mais adequado
Para a nossa proteção
Das chuvas e do solão.
Deixa o lar conceituado.
Oca de branco é casa.
Casa de índio é oca.
Também pode ser maloca
Quando a oca defasa
E uma maior se apraza.
Muitas ocas, uma aldeia
Coletivo é que norteia.
Muitas casas é cidade,
Individualidade,
Que o cidadão se baseia.
Da vida e da arte
Babalu foi meu mentor.
Me ensinou o seu labor,
Foi o meu baluarte.
Pintar telhados, destarte,
Também ele me ensinou,
O que me proporcionou
Ocas Urbanas fazer.
Com carinho, com prazer,
Cada obra germinou.
A minha deferência
Aos Povos Originários.
Pra Vida, são necessários,
Do viver, são referência.
Peço vossa anuência
Para vossa arte usar
Pra que eu possa ilustrar
Que por sob os telhados
Desses chãos retalhados
São os donos do lugar.




